HPV e Câncer de Pele e Mucosas: O Que os Homens Precisam Saber

HPV e Câncer de Pele e Mucosas: O Que os Homens Precisam Saber

Quando se fala em HPV, muita gente pensa apenas em mulheres e em câncer do colo do útero. Mas como oncodermatologistas, sabemos que essa visão está incompleta — e perigosa. O Papilomavírus Humano (HPV) também afeta os homens, e pode causar não só verrugas genitais, mas também câncer de pênis, câncer anal e câncer orofaríngeo (garganta e boca) .

Esses tumores são graves, muitas vezes silenciosos, e frequentemente diagnosticados tardiamente por falta de informação. Este artigo é um alerta — e também um guia — sobre a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e do papel da saúde do homem na luta contra o câncer relacionado ao HPV.

O Que É o HPV?

HPV é a sigla para Papilomavírus Humano, um vírus altamente transmissível por contato íntimo. Existem mais de 150 tipos diferentes, sendo que cerca de 40 infectam a região anogenital. Alguns causam verrugas (tipos de baixo risco), e outros, alterações celulares que podem evoluir para câncer (tipos de alto risco).

O vírus é tão comum que se estima que a maioria da população sexualmente ativa entrará em contato com ele em algum momento da vida.

O HPV Também Afeta os Homens — E Pode Matar

Em homens, o HPV pode se instalar de forma assintomática e permanecer “quieto” por anos. Mas em alguns casos, ele causa alterações celulares que evoluem para câncer. Os principais são:

  • Câncer de pênis : mais comum em homens não circuncidados, com baixa higiene íntima e histórico de infecção por HPV.
  • Câncer anal : mais prevalente em homens que fazem sexo anal receptivo, especialmente os imunossuprimidos.
  • Câncer de orofaringe (garganta, língua, amígdalas) : frequentemente relacionado ao sexo oral desprotegido com parceiros infectados.

Esses cânceres são evitáveis em grande parte dos casos. E quando diagnosticados precocemente, as chances de cura são muito maiores.

Para o diagnóstico, o dermatologista pode realizar uma biópsia de pele.

Verrugas Genitais: Um Sinal de Alerta

Nem todo HPV causa câncer — mas as verrugas genitais são um sinal de que o vírus está ativo. Elas podem surgir como:

  • Pequenos nódulos na pele do pênis, escroto, virilha, região anal;
  • Lesões planas ou em “couve-flor”;
  • Coceira ou desconforto, mas muitas vezes são assintomáticas.

Mesmo que não causem dor, essas lesões devem ser examinadas. Além do incômodo estético, indicam risco de transmissão e precisam ser tratadas.

Como o HPV é Transmitido?

O HPV é transmitido por:

  • Relações sexuais desprotegidas (inclusive oral e anal);
  • Contato pele com pele na região genital;
  • Contato com áreas infectadas, mesmo sem penetração.

O preservativo reduz o risco, mas não elimina totalmente a chance de contágio, pois o vírus pode estar em áreas não cobertas pela camisinha.

A Vacina Contra o HPV: Um Marco na Prevenção do Câncer

A vacina contra HPV é uma das ferramentas mais eficazes na prevenção do câncer genital e orofaríngeo. Ela é:

  • Disponível no SUS para meninos e meninas de 9 a 14 anos;
  • Recomendável para homens até 45 anos, especialmente os imunossuprimidos;
  • Segura, com eficácia comprovada contra os tipos mais perigosos do vírus.

Vacinar-se é um ato de autocuidado e proteção para todos ao redor.

Por Que Muitos Homens Ainda Não Se Vacinam?

Infelizmente, a cobertura vacinal entre meninos é muito inferior à das meninas. Entre os motivos estão:

  • Falta de informação;
  • Preconceito (“vacina de mulher”);
  • Ausência de campanhas voltadas ao público masculino;
  • Vergonha ou negligência com a saúde íntima.

Como médicos, temos um papel fundamental em mudar essa realidade — orientando com clareza e naturalidade.

Mitos Comuns Que Precisam Cair

  • “HPV é coisa de mulher” → Falso. Homens também pegam, transmitem e desenvolvem câncer.
  • “Se eu não tenho verruga, estou limpo” → Falso. A maioria das infecções é silenciosa.
  • “Já tenho mais de 20 anos, não adianta vacinar” → Falso. A vacina continua sendo útil, especialmente se você não teve contato com todos os tipos de HPV.
  • “Só quem tem muitos parceiros pega HPV” → Falso. Uma única relação já pode transmitir.

Como Falar Sobre Isso Com o(a) Parceiro(a)

Conversar sobre HPV não é tabu — é sinal de maturidade. Dicas:

  • Escolha um momento calmo e com respeito mútuo;
  • Compartilhe informações de forma simples;
  • Mostre que seu objetivo é proteção e cuidado;
  • Proponha irem juntos ao médico, se necessário.

Abrir o diálogo ajuda a quebrar o ciclo de desinformação e medo.

Dúvidas Frequentes no Consultório (FAQ)

HPV tem cura?
Não existe um “remédio” que elimine o HPV do corpo, mas em muitos casos o próprio organismo elimina o vírus naturalmente ao longo do tempo. As verrugas podem ser tratadas e removidas. O importante é acompanhar com o médico.

Quem já teve HPV pode se vacinar?
Sim. A vacina ainda pode proteger contra outros subtipos do vírus com os quais a pessoa não teve contato. Converse com seu médico sobre a indicação.

Como saber se estou com HPV se não tenho sintomas?
Infelizmente, o HPV pode estar presente mesmo sem sinais visíveis. Por isso, a consulta médica e exames de rotina são fundamentais, especialmente em homens com múltiplos parceiros(as).

O exame de sangue detecta HPV?
Não. O diagnóstico geralmente é feito por exame clínico ou coleta de material da mucosa para análise laboratorial, dependendo do caso.

Rotina Preventiva Para Homens

  • Vacinar-se contra HPV, especialmente se tiver até 45 anos;
  • Usar preservativo em todas as relações sexuais, inclusive orais e anais;
  • Observar a pele e mucosas genitais periodicamente em busca de lesões novas;
  • Consultar um dermatologista ou urologista regularmente, mesmo sem sintomas;
  • Manter boa higiene íntima e cuidado com a saúde geral;
  • Evitar tabagismo, que aumenta o risco de câncer associado ao HPV.

Conclusão

O HPV não é um assunto exclusivo das mulheres — ele também afeta a saúde masculina, muitas vezes de forma silenciosa. Verrugas genitais, infecções invisíveis e até cânceres como o de pênis, anal e garganta podem estar ligados ao vírus.

Mas, felizmente, quase tudo isso pode ser evitado. A vacina é uma aliada poderosa, o uso do preservativo reduz o risco de contágio, e conversar abertamente com o(a) parceiro(a) sobre saúde íntima demonstra responsabilidade e cuidado mútuo.

Desmistificar o HPV é essencial. Muitos homens ainda deixam de se vacinar por desinformação ou preconceito. E muitos só procuram ajuda quando o problema já está visível.

Prevenir é mais fácil, mais barato e mais inteligente. Cuidar da saúde íntima também é coisa de homem — e deveria ser parte da rotina de todos.

Falar sobre isso é um ato de coragem. Vacinar-se é um ato de proteção. Consultar-se é um ato de respeito com o próprio corpo e com quem se ama.

Vacine-se. Use preservativo. Vá ao dermatologista.

Que esse conhecimento não pare em você.

Compartilhe, converse, oriente.

Informação também é prevenção. Informação também salva vidas.

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Bruno
Dr Bruno Ochiuto, CRM-SP: 123.880 – RQE: 48.057